As doenças inflamatórias intestinais (DII) são doenças crônicas que causam inflamação nos intestinos em variadas intensidades. As principais são a doença de Crohn (DC) e Retocolite Ulcerativa (RCUI).
Não se sabe exatamente a causa dessas doenças, porém acredita-se que elas atinjam mais indivíduos geneticamente predispostos que adotam estilo de vida pouco saudável, que modificam a microbiota intestinal (disbiose), interferindo na imunidade desses indivíduos.
Nas formas mais leves, os sinais e sintomas podem ser dores abdominais e alterações do hábito intestinal, como diarreia ou constipação. Nas formas mais graves, dores intensas diarreias, sangramento nas fezes, perda de peso, cansaço, fraqueza, entre outros.
Dentre várias diferenças entre DC e RCUI, uma delas é que na DC pode haver envolvimento de todo o trato gastrointestinal, ou seja, desde a boca até o ânus, ao passo que a RCUI fica restrita ao reto e intestino grosso. Além disso, a DC pode acometer todas as camadas da parede intestinal, inclusive com riscos de perfuração, comparado com o envolvimento limitado à mucosa da RCUI.
O diagnóstico é realizado a partir de uma minuciosa avaliação clínica, com auxílio de exames laboratoriais e de imagem. Entre os exames de imagem, a endoscopia digestiva alta, colonoscopia e a tomografia computadorizada são os mais frequentes.
O tratamento da DII necessita de uma terapia de longo prazo baseada em combinações medicamentosas para controlar a doença, associada a mudanças dietéticas e alterações no estilo de vida.
Manter hábitos alimentares adequados podem auxiliar a diminuir a ocorrência de sintomas e levar a uma boa condição nutricional, que será acompanhada de melhor resposta aos medicamentos. Alguns alimentos podem causar diarreia, dores abdominais e emagrecimento.
A DC e a RCUI podem impedir a absorção necessária de vitaminas e minerais. É possível que indivíduos diagnosticados com essas doenças possam ter dificuldades na absorção de ferro, vitamina B12, cálcio e vitamina D. Caso haja alguma dessas deficiências, o nutricionista ou a equipe médica pode auxiliar no tratamento, recomendando alimentos fontes desses nutrientes ou trabalhando em conjunto com a suplementação, caso necessário.
Para adequar o ferro proveniente da alimentação, é recomendado aumentar a ingestão de folhas verdes escuras, cereais, ovos, carne e leguminosas. A absorção de ferro é maior quando consumido alimentos de origem animal. Entretanto, incluir alimentos ricos em vitamina C na mesma refeição pode auxiliar nessa absorção.
A vitamina B12 é encontrada em alimentos como carnes, queijos, leites e ovos. Esta vitamina é absorvida no íleo terminal. Na DC pode haver uma inflamação desta região e, às vezes, até remoção cirúrgica. Nestes casos sua absorção pode ser bem comprometida. Por isso, o acompanhamento médico e nutricional é fundamental.
A vitamina D, além de ser adquirida através da alimentação, pode ser sintetizada pela luz solar.
O cálcio pode ser ingerido através de alimentos lácteos e é de grande importância para a saúde óssea. É comum as crises das DII serem acompanhadas de intolerância a lactose, dificultando assim, a ingestão desse grupo de alimentos. Nestes casos, é ideal optar por leites ou produtos sem lactose e enriquecidos com cálcio.
Outra condição que pode ser apresentada nos indivíduos com esse diagnóstico é a doença celíaca. Neste caso, é ideal procurar um acompanhamento, visto que com a exclusão de alimentos que contém glúten na sua composição, deve-se reequilibrar a quantidade de fibras da alimentação através de outras fontes.
As fibras apresentam diversos benefícios para a saúde como a diminuição do risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e pode até mesmo auxiliar na prevenção de câncer de intestino. Entretanto, pessoas que apresentam DII podem ser mais sensíveis com os efeitos das fibras no intestino e sua prescrição deve ser avaliada de maneira individual. Para alguns, ela pode auxiliar na redução dos sintomas durante as crises, enquanto que, em outros casos pode piorar esses sintomas. O indivíduo com Doença de Crohn pode desenvolver uma estenose ou subestenose (estreitamento do intestino), nesses casos a dieta deverá ser pobre em fibras, afim de evitar cólicas e distensão abdominal.
Estratégias nutricionais para atuar nos sinais e sintomas da DII:
Náuseas e vômitos: fracionar bem as refeições, ingerir líquidos frios e alimentos secos, evitar alimentos gordurosos, fritos ou com cheiro muito forte.
Diarreia: deve-se evitar consumir alimentos gordurosos, condimentados, ricos em fibras, bebidas que contenham cafeína, laticínios, adoçantes e álcool.
Desidratação: aumentar a quantidade de líquidos e de sódio. Em casos mais severos, entrar em contato com a equipe médica.
Constipação: ingerir de 1,5L a 2L de água por dia. Se não apresentar estenose, aumentar a quantidade de fibras gradativamente.
Distensão abdominal e flatulência: comer em pequenos volumes com maior fracionamento e evitar alimentos gordurosos, fritos, gaseificados, picantes, industrializados e ricos em açúcar.
Por: Letícia Nunes Martins Castanho – Nutricionista – CRN3 52140
Dra. Yael Albuquerque – Gastroenterologista – CRM: 98.475
Responsável Técnico – Dr. Thiago F. de Souza – CRM 110219