A busca pela dieta baseada em plantas, conhecida como plant-based diet, vem crescendo em todo o mundo. De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBOPE em abril de 2018, 14% da população brasileira (quase 30 milhões de pessoas) se identificam como vegetarianas – um crescimento de 75% comparado a uma pesquisa de 2012.
Estudos associam padrões dietéticos vegetarianos, especialmente a dieta baseada em plantas, à diminuição do risco de obesidade e doenças relacionadas à obesidade, como diabetes tipo 2 (DM2), doença diverticular (DDC), câncer colorretal (CCR), hipertensão arterial sistêmica (HAS), síndrome metabólica (SM), doenças cardiovasculares (DCV) e outras doenças cardiometabólicas, devido mudanças favoráveis nos biomarcadores inflamatórios e metabólicos relacionados à adiposidade (gordura corporal), como a redução das concentrações sangüíneas de colesterol total, lipoproteína de baixa densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL). Uma dieta vegetariana pode ser um meio não farmacêutico útil para o manejo da dislipidemia, especialmente a hipercolesterolemia. Se você tem dúvidas quanto às diferentes variedades de vegetarianismo, clique aqui.
Um estudo de caso realizado em 2013 apresenta o caso de um paciente do sexo masculino com sobrepeso, hipertensão, diabetes tipo 2 e hipercolesterolemia, fazendo uso de sete medicamentos (três para hipertensão, um para hipercolesterolemia e três para diabetes descompensada). Foi prescrito uma dieta baseada em plantas com baixo teor de sódio e trinta minutos de exercício físico diário. Em dezesseis semanas após acompanhamento mensal, o médico retirou dois medicamentos para HAS, dois para DM e o da hipercolesterolemia, devido melhoras na pressão arterial, diabetes e perfil lipídico. Como o paciente não era obeso e não apresentava perda significativa de peso com a dieta, as melhoras parecem estar relacionadas à qualidade de sua nova dieta.
Além da nutrição e da saúde, a plant-based diet diminui muito o impacto no meio ambiente. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o setor de produção animal é um dos dois ou três maiores responsáveis pelos mais sérios problemas ambientais, em todas as escalas, da local à global. São utilizados entre 10 e 20 mil litros de água para produzir apenas 1kg de carne bovina. Outros tipos de carne e produtos animais também requerem um aporte de água muito superior ao de alimentos vegetarianos. O maior benefício dessa dieta é o equilíbrio entre você e o planeta.
Vale ressaltar que dietas baseadas em plantas não necessariamente são sinônimo de um padrão alimentar de boa qualidade. Essas dietas podem incluir alimentos vegetais menos saudáveis, incluindo salgadinhos, sobremesas e bebidas açucaradas, além de alimentos altamente processados. Um exemplo disso são os substitutos da carne à base de soja, excessivamente processados, que costumam ser ricos em proteínas de soja isoladas e outros ingredientes que podem não ser tão saudáveis quanto os produtos de soja menos processados (isto é, tofu, tempeh e leite de soja).
Uma distinção fundamental é que, embora a maioria das dietas vegetarianas seja definida pelo que elas excluem, a dieta baseada em plantas é definida pelo que ela inclui. Uma dieta saudável e baseada em plantas visa maximizar o consumo de plantas repletas de nutrientes, minimizando os alimentos processados, óleos e alimentos de origem animal (incluindo produtos lácteos e ovos). Ela inclui legumes (cozidos ou crus), verduras. frutas, leguminosas (feijões, ervilhas, lentilhas, soja), sementes e oleaginosas (em quantidades menores) e geralmente tem baixo teor de gordura. Uma dieta bem equilibrada e à base de plantas fornecerá quantidades adequadas de aminoácidos essenciais e evitará a deficiência de proteínas, assim como a ingestão de cálcio, ácidos graxos n-3 entre outros, porém ela requer planejamento e disciplina.
Não se pode curar doenças crônicas, porém é possível preveni-las e controlá-las mudando a alimentação, assim como reduzir o número de medicamentos utilizados para tratar essas doenças. Mais pesquisas são necessárias para encontrar maneiras de tornar as dietas baseadas em plantas o novo padrão para a população em geral, pois mudar radicalmente a dieta pode ser uma tarefa difícil, por isso deve-se começar aos poucos, sempre com o auxilio de um(a) nutricionista, para adequar o plano alimentar conforme a rotina, estilo de vida e excessos/carências nutricionais. Uma dieta baseada em vegetais não é um programa de tudo ou nada, mas um modo de vida que é adaptado a cada indivíduo, sendo que benefícios alcançados serão relativos ao nível de adesão e à quantidade de produtos animais consumidos.