A infecção pode ter sido provocada pela queda de imunidade decorrente de internação e jejum prolongados. Complicação deve aumentar o tempo de internação.
SÃO PAULO – O quadro depneumonia apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro , segundo especialistas consultados pelo GLOBO, não é comum em pacientes que passaram por cirurgias como a dele (a reversão dacolostomia ). Mas, se tratado precocemente, tende a evoluir bem, apesar de estender o tempo de internação, dizem profissionais ligados às áreas de tratamento intensivo e de gastroenterologia.
Bolsonaro está no hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, desde o dia 27 de janeiro, quando foi internado para retirar a bolsa de colostomia que carregava junto ao corpo desde que sofrera um atentado à faca, durante a campanha à presidência da República. Segundo o boletim médico divulgado pelo hospital na tarde de hoje, uma tomografia de tórax constatou quadro semelhante à pneumonia . Bolsonaro, que recebe cuidados semi-intensivos, também apresentou um “episódio isolado de febre”, diz o boletim.
Segundo o médico intensivista Jorge Salluh, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, trata-se de uma complicação importante para a saúde do presidente, e que ocorre em poucos casos semelhantes ao dele:
— É o tipo de complicação que ocorre de 10% a 15% das cirurgias de andar superior de abdômen. Prolonga a internação — afirma Salluh — Mas, se tratada precocemente, tem bons resultados clínicos — acrescenta.
Segundo o Einstein, foi feito um ajuste no tipo de antibiótico usado pelo presidente. De acordo com o cirurgião Eduardo Grecco, especialista em aparelho digestivo e professor da Faculdade de Medicina do ABC, o tratamento precoce com antibióticos é o correto em situações assim, e o quadro de Bolsonaro deve evoluir bem.
De acordo com Grecco, é provável que a pneumonia do presidente tenha sido causada por uma infecção bacteriana. Ele especula que a complicação decorreu da internação prolongada e pelo longo período que Bolsonaro passou em jejum:
— O presidente ficou muito tempo internado sem se alimentar. Uma hipótese é que tenha caído sua imunidade, e isso o deixou exposto a infecções — explica o especialista.
O período prolongado passado no hospital aumenta as chances desse tipo de ocorrência. Nesse ambiente, o paciente pode ficar mais exposto a vírus e bactérias:
— Por isso, o desejo do médico é o de operar e, tão logo for possível, mandar para a casa — diz Grecco.
De acordo com Elaine Moreira, da Federação Brasileira de Gastroenterologia, o longo período passado em repouso e o desconforto decorrente da cirurgia abdominal também aumentam as chances de uma infecção:
— Ainda que esteja fazendo fisioterapia, Bolsonaro passa muito tempo em repouso. E sente o desconforto decorrente da operação. Isso diminui a complacência pulmonar, a capacidade de o pulmão se expandir. E aumenta as chances de infecção — afirma ela.
Segundo Elaine, é possível que a internação de Bolsonaro seja prolongada por pelo menos mais sete dias. É o tempo que, no geral, os médicos esperam para avaliar a evolução do tratamento com antibiótico.
Por ora, Bolsonaro mantém a dieta oral líquida, associada à nutrição intravenosa. Deve evoluir para dieta pastosa e, por fim, sólida, conforme recuperar os movimentos do intestino delgado.
Originalmente postado em: https://oglobo.globo.com/brasil/2019/02/07/3046-pneumonia-de-bolsonaro-nao-comum-mas-tende-evoluir-bem-dizem-especialistas
Por Dr. Eduardo Grecco, Endoscopista, CRM 97960 e Dra. Elaine Moreira, Gastroenterologista, CRM 109.612
Responsável técnico – Dr. Thiago F. de Souza CRM 110219