O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Caetano Marchesini, fez um alerta nesta terça-feira (26), sobre a necessidade de políticas públicas sólidas para frear as estratégias de vendas da indústria alimentícia e que estão trazendo consequências irreversíveis para o avanço da obesidade no Brasil
No dia 16/09, o Jornal americano New York Times publicou reportagem especial sobre a nova política de vendas das multinacionais do gênero alimentício para o Brasil e outros países em desenvolvimento. A oferta domiciliar de produtos processados como bebidas açucaradas, macarrões instantâneos, bolachas e outros, a baixo custo, para as regiões mais carentes do Brasil, está influenciando na mudança de hábitos alimentares tradicionais da população.
O New York Times analisou os registros de empresas, estudos epidemiológicos e relatórios governamentais, assim como realizou entrevistas com especialistas em saúde do mundo. O resultado é uma mudança radical na maneira como os alimentos são produzidos, distribuídos e anunciados em grande parte do mundo. Isso, segundo o presidente da SBCBM, Cateano Marchesini está contribuindo para uma nova epidemia de doenças crônicas associadas às elevadas taxas de obesidade em regiões que há apenas uma década lutavam para combater a fome e a desnutrição.
“Todos os cirurgiões bariátricos do país não seriam suficientes para operar os brasileiros candidatos a uma cirurgia atualmente. É preciso conter a mudança desenfreada de hábitos alimentares que está sendo promovida no Brasil e que caminha para nos tornar o país mais obeso do mundo”, declarou Marchesini.
DADOS – De acordo com a Euromonitor, uma empresa de pesquisa de mercado, a epidemia da obesidade está intrinsecamente ligada às vendas de alimentos industrializados, que cresceram 25% no mundo todo de 2011 a 2016, em comparação com 10% nos Estados Unidos. As vendas de refrigerantes na América Latina dobraram desde 2000, ultrapassando o consumo na América do Norte em 2013, segundo a Organização Mundial da Saúde.
CRESCIMENTO DA OBESIDADE É PROGRESIVO – O diretor executivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e pesquisador, Luiz Vicente Berti, lembra que o Brasil está assistindo há mais de uma década o crescimento desenfreado da obesidade.
Em 2007, o cirurgião liderou uma pesquisa que já apontava, de acordo com dados sociais e econômicos, o aumento da obesidade entre homens e mulheres. “De lá para cá o número de obesos no Brasil aumentou 60%, de acordo com a mais recente pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde2”, informou Berti. “A obesidade sobrecarrega o sistema de saúde do Brasil e, com as atuais políticas públicas, a tendência é piorar. Alguém terá que pagar esta conta”, analisa Berti.
MEDIDAS URGENTES – Marchesini coordenou recentemente um estudo – juntamente com professores do curso de nutrição da Universidade Federal do Paraná e Universidade Positivo – apontando que informações mais claras e didáticas nos rótulos dos alimentos industrializados influenciam os consumidores na compra dos produtos. Entre os entrevistados, 89% mudaram suas escolhas no supermercado ao se deparar com um selo vermelho de alerta na embalagem do produto. Em contrapartida, apenas 11% mantiveram a decisão pela compra de um produto que não é considerado saudável.
O médico defende que a interpretação de rótulos e informações nutricionais de alimentos embalados deve ser facilitada para que a população possa fazer escolhas autônomas, saudáveis e adequadas.
“A inclusão de um selo de cores diferenciadas é uma ferramenta importante para a interpretação das informações contidas nos produtos alimentícios embalados ultraprocessados e influência na escolha de alimentos”, declarou Marchesini.
O estudo utilizou como base o regulamento Anvisa e técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos embalados (resolução RDC nº 54/2012 e resolução RDC nº 360/2003.