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Ecoendoscopia – Indicações, contra-indicações e complicações

** INDICAÇÕES

A ultrassonografia endoscópica ou ecoendoscopia (ECOENDO) possui indicações tanto diagnósticas quanto terapêuticas. A ECOENDO pode alterar a conduta à medida que apresenta maior sensibilidade e especificidade em determinadas afecções do trato gastrointestinal (TGI). Normalmente é indicada após outros exames de imagem como endoscopia digestiva alta, colonoscopia, ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética.

As principais indicações diagnósticas são: estadiamento locoregional de neoplasias do TGI, avaliação e elucidação diagnóstica das lesões subepiteliais do TGI; lesões pancreáticas e de vias biliares; investigação de litíase/microlitíase biliar, estadiamento de endometriose, anomalias congênitas do TGI. Outra indicação importante do procedimento é o seguimento/vigilância de algumas lesões benignas com potencial de maliginidade em que se avalia alterações nas características morfológicas bem como o surgimento de indícios de malignidade.

O procedimento permite ainda a realização de biópsias através da punção com agulha fina  para análise citológica e histológica.

Algumas das indicações terapêuticas são: drenagem de pseudocisto pancreático, drenagem de coleção/abscesso intra-abdominal, tratamento de varizes esofagogástricas; neurólise com bloqueio do plexo celíaco, drenagem com descompressão das vias biliares e ablação de algumas lesões em pacientes inaptos a terapêutica cirúrgica.

 

** CONTRAINDICAÇÕES

🡪 Absolutas

  • – relacionadas à sedação;
  • – anatomia alterada que impede o acesso a região/órgão a ser avaliado;
  • – diagnóstico de câncer e que ainda não foi submetido ao protocolo de investigação.

🡪 Relativas

  • – coagulopatia (INR > 1,5);
  • – plaquetopenia < 50.000;
  • –  presença de estruturas vitais no trajeto da agulha.

 

** PREPARO:

🡪 Orientações gerais

A ECOENDO pode ser realizada via ambulatorial ou em regime hospitalar com o paciente internado.

O preparo é semelhante ao utilizado para os exames endoscópicos. Na ecoendoscopia alta recomenda-se jejum de 8 horas e na ecoendoscopia baixa o preparo assemelha-se ao da colonoscopia com necessidade do preparo intestinal. Entretanto, em alguns casos, o preparo com enemas é suficiente.  

🡪 Exames pré procedimento

Pacientes hígidos não necessitam de exames subsidiários à medida que não alteram o risco de complicações inerentes à sedação. Os exames necessários para os pacientes com comorbidades são solicitados de acordo com protocolos específicos de avaliação pré anestésica.  

🡪 Medicações de uso diário

Os pacientes devem fazer uso das medicações normalmente, com a ingestão de pequena quantidade de água, quando necessário. Segue algumas orientações sobre medicações específicas:

– pacientes que usam insulina devem fazer uso da metade da dose durante o período do jejum. A dose da insulina após realização do exame é a mesma do uso habitual.

– pacientes que usam hipoglicemiantes orais não devem fazer uso enquanto estiverem em jejum. A reintrodução deve ser feita após alimentação e a dose deve ser igual ao do uso habitual.

🡪 Anticoagulantes e antiagregantes plaquetários

O uso de AAS deve ser continuado e, portanto, não é necessária a sua suspensão para os exames de ECOENDO, com ou sem punção com agulha fina (PAAF).

A suspensão dos diversos tipos de anticoagulantes não é indicada na ECOENDO em que não existe possibilidade de PAAF ou terapêutica.

Nos pacientes com indicação de PAAF ou terapêutica ecoendoscópica é necessária a suspensão dessas medicações. A necessidade de ponte medicamentosa deve ser considerada e avaliada individualmente com especialista responsável (cardiologista ou cirurgião vascular).

O tempo necessário entre a suspensão da droga e o procedimento é dependente do tipo de droga e da função renal do paciente.  

Apesar da PAAF apresentar baixo risco de sangramento, o procedimento é considerado de alto risco, pois na maior parte dos sangramentos ocorrem em regiões inacessíveis ou não são passíveis de tratamento endoscópico convencional. A maior parte dos estudos sugere que os sangramentos nas punções são precoces, no momento do exame. Sangramentos tardios são raros. Assim a recomendação para a reintrodução da droga será de 4-6 horas nos casos em que não houveram sangramentos identificados no momento do exame.

Neste grupo de pacientes recomenda-se a utilização de agulhas de 22-25 gauges e presença do patologista na sala, objetivando diminuir o número de punções a serem realizadas.

🡪 Profilaxia antibiótica

A bacteremia é relatada após punção de agulha fina em cerca de 4-6% e antibióticos profiláticos são recomendados em algumas situações:

  • – pacientes com cirrose e sangramento gastrointestinal agudo;
  • – pacientes dialíticos;
  • – neutropenia: <500 células (questionável).
  • – punção de lesões císticas;
  • – ablação do plexo celíaco;
  • – punção e drenagem de coleções pancreáticas;
  • – punção para acesso aos ductos biliares;

A utilização de antibiótico profilaxia não está indicada nas punções de lesões sólidas.

 

** COMPLICAÇÕES E EVENTOS ADVERSOS ESPECÍFICOS DA ECOENDO

🡪 Perfuração

A incidência de perfuração nos pacientes submetidos a ECOENDO é de 0-0,4%. A maior parte dos casos resulta da progressão do aparelho, que tem uma ponta longa e rígida, em áreas de angulação, estenose ou lúmen virtual (divertículos).

No caso de estenose no trajeto, existe a discussão de realizar ou não a dilatação para a transposição do ecoendoscópio.   Atualmente o procedimento de dilatação até 15mm, apresenta postiva relação risco/benefício pois, parece seguro e permite a passagem da maior parte dos aparelhos disponíveis. O sucesso na passagem do aparelho após dilatação está em torno de 75-85%.

🡪 Sangramento

O risco de sangramento está associado a punção com agulha fina. A taxa de sangramento em algumas séries é de até 0,4%. Alguns estudos relatam o risco de sangramento dentro de lesões císticas em até 6%. Sangramentos podem serem identificados a ECOENDO como uma imagem hipoecóica associada a expansão do tecido ou crescimento do nódulo ou massa.

🡪 Infecção

A chance de ocorrer infecção já foi discutida no tópico antibiótico profilaxia. Cabe ressaltar que o aspecto técnico das punções e as características das lesões possuem correlação com o risco de infecção.

🡪 Pancreatite

A pancreatite pode ocorrer após PAAF de lesões pancreáticas em até 2% dos casos. O menor número de punções e evitar que a agulha atravesse o tecido pancreático normal, parece ser a conduta mais segura.

🡪 Outros eventos

O risco de disseminação de células malignas no trajeto da punção existe. No caso específico do colangiocarcinoma há estudos que demonstram que pacientes submetidos a punção apresentam alto risco de metástase peritoneal, devendo o procedimento só estar indicado se a terapia curativa (ressecção cirúrgica) não for viável.

Nos casos de massas pancreáticas o risco da punção disseminar células neoplásicas na parede duodenal ou gástrica não é relevante, pois durante o procedimento cirúrgico a ressecção desta região é em bloco, na maioria dos casos.

O coleperitônio também pode ocorrer após punções da vesícula ou vias biliares, embora extremamente raros.

Na ablação do plexo celíaco, complicações como: abscesso, mielite transversal e trombose da artéria celíaca e da aorta podem ocorrer.

 

Por: Dra. Mariana Souza Varella Frazão, Endoscopista, CRM 124362 e 
Responsável técnico – Dr. Thiago F. de Souza CRM 110219

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